Espanha   

História

A região da Ibéria, como é conhecida na Antiguidade, é ocupada por fenícios, gregos e cartagineses até ser incorporada ao Império Romano, em 45 a.C. Roma estabelece a unidade política e introduz o cristianismo na península. No início do século V, época das invasões bárbaras, a Espanha é tomada pelos vândalos germânicos, mais tarde expulsos pelos visigodos. Em 711, Roderico, o último rei visigodo, é derrotado pelos mouros (árabes muçulmanos), que se apossam de quase toda a região. Nos séculos X e XI surgem pequenos reinos cristãos no norte, em áreas que escaparam ao domínio muçulmano, como Navarra, Leão, Castela e Aragão. A reconquista cristã dura cinco séculos e termina em 1492, quando Fernando de Aragão e Isabel de Castela - que unificaram seus reinos com o casamento - tomam Granada, última cidadela moura. No mesmo ano expulsam os judeus, que fogem para Portugal e outros países mediterrâneos ou são convertidos ao catolicismo à força, sendo chamados de cristãos-novos.

Conquista da América - Fernando e Isabel financiam as viagens de Cristóvão Colombo, que descobre a América em 1492 e funda o vasto império colonial espanhol no Novo Mundo. Hernán Cortés conquista o México dos astecas em 1521 e Francisco Pizarro derrota os incas no Peru em 1532. Carlos I de Habsburgo (1500-1558) herda o reino e torna-se, em decorrência de casamentos dinásticos, o governante mais poderoso da Europa: senhor .da Holanda, Áustria, Sardenha, Sicília, Nápoles e imperador do Sacro Império Romano-Germânico, com o título de Carlos V. O catolicismo fervoroso dos reis espanhóis opõe a península ao emergente protestantismo na Europa. Em 1588, a armada espanhola, chamada A Invencível, é derrotada pela Inglaterra. Na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), os Habsburgo espanhóis e austríacos atacam holandeses, suecos e alemães, mas a participação da França ao lado dos protestantes faz pender a balança contra a Espanha e a Áustria. Com a Paz da Westfália (1648), a Espanha reconhece a independência da Holanda e rompe com o ramo austríaco da família Habsburgo.

Portugal e sua colônia, o Brasil, sob domínio da Coroa espanhola desde 1580, se libertam em 1640. Em 1713, a Espanha perde Gibraltar, o Ducado de Milão, o Reino de Nápoles e a Sardenha. Em 1796 alia-se à França de Napoleão Bonaparte, que coloca no trono espanhol seu irmão José, provocando violenta resistência popular. José é derrubado em 1813 com a ajuda da Inglaterra. No início do século XIX, rebeliões nacionalistas na América transformam quase todas as colônias em países independentes. O império colonial termina com a Guerra Hispano-Americana, em 1898, quando a Espanha perde Cuba, Porto Rico, Guam e Filipinas para os EUA.

Guerra Civil Espanhola - A agitação anarquista e o nacionalismo na Catalunha no início do século XX levam o rei Alfonso XIII a encorajar um golpe militar do general Primo de Rivera, em 1923, que dissolve as Cortes (Parlamento) e estabelece uma ditadura. Em 1931, o rei é deposto e a República é proclamada. A Frente Popular (FP), aliança entre republicanos e comunistas, ganha as eleições de 1936. Militares liderados pelo general Francisco Franco sublevam-se no Marrocos espanhol em junho de 1936 e obtêm o apoio de 50 guarnições de toda a Espanha. A população invade os quartéis e toma armas para defender a FP dos franquistas, que têm o apoio da oligarquia rural e da Igreja Católica. Iniciam-se violentos combates entre milícias populares - em grande parte lideradas pelos anarquistas - e o Exército. A guerra civil dura até 1939 e ganha dimensão internacional. Os republicanos contam com o auxílio da União Soviética (URSS), que envia armas e organiza as Brigadas Internacionais, com milhares de voluntários comunistas e anarquistas de 50 países. Os franquistas recebem ajuda de Hitler e Mussolini, que mandam tropas e aviões. Perto de 1 milhão de pessoas morrem no conflito. A vitória dos militares leva à ditadura de Franco.

Franquismo - Apoiado pelo Exército, Franco institui um regime de partido único, em que exerce os poderes Executivo e Legislativo e controla o Judiciário. Mantém o país fora da Segunda Guerra Mundial, mas envia soldados para ajudar os nazistas na invasão da URSS. Em 1947, o ditador restaura a monarquia e passa a ser regente vitalício. Em 1969 nomeia como seu sucessor o príncipe Juan Carlos, neto do antigo rei Alfonso XIII. No período franquista, a Espanha se isola do restante da Europa, mas a ajuda financeira e militar dos EUA proporciona relativo progresso econômico a partir dos anos 60.

Redemocratização - Com a morte de Franco, em 1975, é coroado o rei Juan Carlos I. Um gabinete moderado dá início às reformas políticas. No mandato do primeiro-ministro Adolfo Suárez, os partidos políticos são legalizados. Em 1977 realizam-se as primeiras eleições livres na Espanha desde 1936, vencidas pela União de Centro Democrático (UCD), de Suárez. No Pacto de Moncloa, de 1978, partidos, sindicatos e outros setores selam o acordo que institui as bases legais do moderno Estado democrático espanhol.

Regiões autônomas - No final de 1978 é aprovada a nova Constituição, que cria 17 regiões autônomas. Catalunha, Galícia e País Basco conquistam maior autonomia por ser consideradas nacionalidades históricas, com cultura e língua própria.

A Catalunha, com capital em Barcelona, é a mais rica e industrializada das regiões. O idioma catalão é falado por cerca
de 7 milhões de pessoas. A Galícia baseia sua economia na agricultura e abriga Vigo, um dos principais portos de pesca do país. A consciência regionalista é atribuída ao uso literário da língua galega, próxima do português.

O País Basco, composto de três províncias espanholas no norte (há outras três regiões bascas na França), possui um destacado estaleiro e um grande setor siderúrgico. Os bascos falam o único idioma não latino da península Ibérica. Apesar das garantias da Constituição de 1978, mesmo quanto ao uso das línguas regionais, persistem reivindicações por independência total. O movimento separatista basco é liderado pela organização ETA (Pátria Basca e Liberdade), criada em 1959.

Social-democracia - Reeleito em 1979, Suárez renuncia dois anos depois e é sucedido por Calvo Sotelo. Em fevereiro de 1981, militares tomam o Parlamento e tentam dar um golpe de Estado. A ação firme do rei Juan Carlos I e a oposição da sociedade civil reprimem o movimento e consolidam o regime democrático.

Em 1982, os social-democratas ganham as eleições, e Felipe González torna-se o primeiro chefe de governo socialista desde 1936. Eleito com uma plataforma contrária à Otan, González promove a entrada da Espanha na instituição em 1982 e implementa medidas de austeridade econômica, provocando protestos. Em 1986, a Espanha ingressa na Comunidade Econômica Européia (CEE), atual União Européia (UE). Novas eleições confirmam os socialistas no governo. A política de austeridade recupera a economia, mas aprofunda o desemprego e enfraquece o governo de González.

Terrorismo basco - Na campanha eleitoral de 1996, a Espanha é sacudida por uma onda de assassinatos cometidos pela ETA. As eleições são vencidas pelo conservador Partido Popular (PP). Seu líder, José María Aznar, se torna primeiro-ministro. Em julho de 1997, milhões de espanhóis realizam protestos contra a ETA. O estopim das manifestações é o assassinato de um jovem vereador do PP. Isolada e pressionada pelo impacto positivo das negociações de paz na Irlanda do Norte, a ETA anuncia um cessar-fogo em setembro de 1998. O poder central aceita a trégua, com desconfiança, e, dois meses depois, informa o início de contatos diretos com a organização basca.

Fatos recentes - No começo de 1999, recomeçam as ações violentas da ETA, que exige um referendo sobre a independência da região e a transferência de cerca de 600 integrantes do grupo para uma prisão no País Basco. Acusando o governo de intransigência e repressão, a ETA anuncia, em novembro, o fim do cessar-fogo. Em janeiro de 2000 retoma a campanha de atentados, matando um militar em Madri. Protestos em todo o país atingem o ponto alto no final do mês, durante manifestação de 1 milhão de pessoas na capital. A ofensiva da ETA acontece às vésperas das eleições parlamentares de março e intensifica-se entre julho e setembro, elevando para 13 o número de mortos desde o fim da trégua. O governo espanhol, de sua parte, recusa-se a negociar e amplia o cerco aos guerrilheiros. A estrutura da ETA é fortemente abalada em setembro com a prisão, na região francesa de Bidart, de Ignacio Gracia Arregui. Mais conhecido como Iñaki de Rentería, ele é considerado o número 1 da ETA, responsável pela ala militar da organização desde 1992.

Gibraltar - A Espanha acusa, em fevereiro de 1999, o governador de Gibraltar de tentar resolver problemas sobre direitos de pesca sem consultá-lo e impõe restrições de tráfego na fronteira. A região é um território britânico encravado no sul da península Ibérica e reivindicado pelos espanhóis. As divergências são em parte superadas em abril de 2000, com a assinatura de um acordo pelo qual a Espanha aceita cooperar com as autoridades de Gibraltar em assuntos administrativos, sem, contudo, abdicar da reivindicação de soberania.

Recuperação econômica - A partir de meados da década, o país experimenta uma forte recuperação econômica. Em 1999, o desemprego - que havia chegado aos 22% - se aproxima dos 15%. Uma das razões para o crescimento - 3,7% em 1999 - é o apoio do governo à formação de multinacionais espanholas e a seus investimentos estrangeiros, principalmente na América Latina. Graças à participação de conglomerados como a Telefónica e a Iberdrola nas privatizações da região, a Espanha torna-se, em 1999, o mais importante investidor estrangeiro na Argentina e o segundo no Brasil.

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